A cada 24 horas um posto de combustíveis é assaltado na Grande Florianópolis. A estimativa é de que 70% dos estabelecimentos já sofreram este tipo de violência. Para se ter uma idéia da situação de abandono em que se encontra a segurança pública na região, um posto localizado em São José já foi assaltado 32 vezes e, em apenas duas ocasiões os bandidos acabaram detidos.

Na tentativa de combater a crescente onda de criminalidade, que, além dos prejuízos materiais, colocam em risco a vida de funcionários e clientes, os sindicatos que representam a categoria – Sindicomb e Sindópolis – têm realizado ações sistemáticas para apontar o quadro de caos na segurança.

Em 2010 foram realizadas diversas reuniões com a cúpula da segurança pública no estado e os revendedores, em ato inédito no país, mobilizaram- se e fecharam os postos em protesto contra a ineficiência dos órgãos de segurança do governo.

Neste ano, os sindicatos vêm realizando encontros periódicos com entidades patronais do comércio e Conselhos Comunitários de Segurança (Consegs) para buscar, em conjunto, soluções para o problema. Esta iniciativa culminou na realização de uma audiência na Assembléia Legislativa que discutiu os rumos da segurança pública no estado.

Efetivo policial

Presidida pela deputada Ângela Albino (PC do B), a audiência revelou dados que ajudam a entender a escalada da criminalidade. Em 1999, havia 13 mil policiais militares no estado e hoje este efetivo é de apenas 11 mil. Deste total, 410 policiais militares estão fora das ruas, lotados em órgãos públicos. O número ganha expressão uma vez que é maior do que o efetivo do 4º Batalhão, responsável pela segurança e patrulhamento de toda a Capital. Já o efetivo de 3.201 agentes da Polícia Civil é o mesmo há 11 anos.

Há, ainda, outros dados alarmantes: somente em 2011, as cadeias catarinenses registraram a fuga de 429 detentos. Destes, mais de 150 ganharam as ruas de Florianópolis em duas fugas em massa no complexo prisional da Agronômica.

Violência nos postos

Para o vice – presidente do Sindicato dos Revendedores de São José e Região (Sindicomb), Luiz Ângelo Sombrio, a situação dos postos é caótica. “Viramos ‘caixa eletrônico’ dos bandidos. Em um período de 120 dias minhas empresas foram assaltadas nove vezes, com quatro furtos de cofres”. Segundo ele, o sistema comunicação da polícia não funciona, há problemas de gestão e de comando na segurança pública.

O revendedor questionou a ausência de representantes do governador e do secretário de Segurança Pública na audiência. “Vamos botar o dedo na ferida e reivindicar nossos direitos. Por que quem manda não está aqui? Onde está o secretário de Segurança? Sombrio indagou, ainda, para onde estão indo os recursos destinados a segurança. O segmento recolhe cerca de 20% do ICMS do estado e está sendo obrigado a contratar segurança privada. “Teremos que nos armar para enfrentar esta situação?

O presidente do SINFREN, Sindicato dos Empregados em Postos de Combustíveis, João Maria de Agostinho, falou da insegurança nos locais de trabalho e da necessidade de buscar alternativas para diminuir a violência. “Hoje os trabalhadores em postos de combustíveis trabalham com medo”. Agostinho afirmou que os frentistas estão entre as categorias que mais sofrem com a ação dos bandidos. “Precisamos agir e exigir mais ações dos órgãos públicos competentes”.

Legislação

De acordo com Carlos Tadeu Lima Pires, presidente da Associação Metropolitana de Conselhos Comunitários de Segurança da Grande Florianópolis (Amecom), apesar de a população pagar impostos, não encontra respostas dos governos com relação à segurança. “Nós temos que procurar o Estado e mendigar aquilo que é de direito. A PM e a Polícia Civil fazem o que podem, é o estado que falha, nós precisamos de leis mais rígidas”, afirmou.

Presente na audiência, o deputado Maurício Eskudlark (PSDB) criticou a benevolência da legislação penal e afirmou que aumentos salariais e a realização de novos concursos públicos são essenciais para enfrentar a situação. “O problema é mais grave do que a população imagina, faltam vagas para menores, para os presos, estamos vivendo quase um caos social”, afirmou Eskudlark.

O diretor da Polícia Civil da Grande Florianópolis, Nivaldo Claudino, afirmou que se a situação está difícil não é por falta de projetos, que são apresentados constantemente, inclusive ao governador. Claudino demonstrou preocupação com o número crescente de pedidos de exoneração e de aposentadorias na Polícia Civil, cerca de 30 por mês. O delegado cobrou mobilização popular e pressão sobre os governantes. “Estamos cansados de balelas, não podemos brincar de fazer segurança”, argumentou.

Para o Tenente-Coronel Araújo Gomes, comandante do 4º Batalhão da Capital, os mecanismos de controle estão superados porque os valores da sociedade mudaram e ninguém tem mais vergonha de ser preso, de andar armado ou de consumir drogas. “Jogar tudo para o mecanismo formal de controle é inútil”. Gomes afirmou que as famílias estão desestruturadas, as escolas não educam e a legislação tem sido modificada de modo a dificultar as ações dos policiais que estão na linha de frente.

O coronel Fred Schauffert, que representou o Comandante da PM na audiência, afirmou que a PM está no limite e os policiais têm uma carga exaustiva de trabalho. “Tenho 36 anos de serviço, a segurança no Brasil está no fundo do poço, ou recomeçamos ou estamos fadados ao insucesso”, declarou.

Participaram também da audiência os deputados Jorge Teixeira (PMDB), Jailson Lima (PT), o conselheiro Gilson dos Santos, policiais civis e militares, representantes dos Consegs e dos CDLs, vereadores, Sinfren, sindicalistas e líderes comunitários de Governador Celso Ramos, Alfredo Wagner, São José, Florianópolis e Biguaçu.