O Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) reprovou por unanimidade, nesta quarta-feira (2), a compra da distribuidora de combustíveis Ale pela Ipiranga.
O negócio, de R$ 2,2 bilhões, consolidaria a Ipiranga na vice-liderança do setor, atrás da BR Distribuidora.
Esse é o segundo grande caso reprovado pelo Cade em dois meses, desde que veio a público a pressão de Joesley Batista, dono da JBS, para que o órgão ajudasse a resolver um problema com a Petrobras para fornecimento de gás para usinas de seu grupo. O primeiro foi a compra do grupo educacional Estácio pela Kroton, rejeitada no fim de junho.
No caso da Ale, com a recusa pelos sete conselheiros —incluindo o presidente do Cade, Alexandre Barreto—, criou-se um precedente de que nenhuma das grandes redes (BR, Ipiranga e Raízen) poderá adquirir a companhia, quarta colocada no mercado, com uma fatia de 5% das vendas de gasolina e 3,1% das vendas de diesel.
Para pessoas envolvidas no setor, é um sinal de que não serão aceitos mais projetos de expansão via aquisições, com exceção de pequenos grupos regionais. Juntas, as três distribuidoras dominam 65% das vendas de gasolina e 75% das vendas de diesel do país.
A transação, caso fosse aprovada sem restrições, elevaria a participação da Ipiranga dos atuais 21% para 25%, acima do limite legal de 20% para operações de fusões e aquisições. A líder BR possui 31% do mercado.
Até o último momento, as empresas tentaram aprovar um “plano B” discutido com o relator do caso, o conselheiro João Paulo de Resende. Mas Ipiranga e Ale não aceitaram as medidas sugeridas, como a venda de aproximadamente 65% da Ale ou 943 postos nas 12 praças mais relevantes do país.
Resende vislumbrava uma possibilidade de que o negócio pudesse ser feito desde que houvesse “remédios” amargos na distribuição de combustíveis e na revenda.
A operação, ainda segundo o relator, oferecia riscos ao postos “bandeira branca” hoje abastecidos pela Ale. No mercado de gasolina, esses postos “sem marca” já representam 32% do mercado e, no de etanol, 48%.
Esse problema já tinha sido identificado pela Superintendência-Geral do Cade, que analisou o caso antes de enviá-lo ao conselho com severas restrições.
A Ultrapar, dona da Ipiranga, disse apenas que a reprovação implica que o contrato para a compra da Ale “restou automaticamente resolvido, sem nenhuma penalidade de parte a parte”.
Em nota, a Ale disse que a decisão “comprova a força e a relevância de sua rede distribuidora”. O acordo para a venda foi anunciado em junho de 2016, após diversas tentativas de aquisição por outras empresas, sempre rechaçadas pelos sócios.
Fundada há 20 anos, a Ale tem cerca de 2.000 postos e é controlada pelo grupo mineiro Asamar, pelo empresário Marcelo Alecrim e pelo fundo americano Darby.