Em queda livre desde a última semana de dezembro, o preço médio do metro cúbico do gás natural veicular (GNV) cobrado nos postos em Santa Catarina chegou a R$ 1,93 na semana passada, o menor do país e ainda R$ 0,13 mais barato do que São Paulo, o segundo colocado.
Quem já é adepto do sistema garante: se despertar o interesse, esta é uma boa hora de mudar o sistema de combustível.
Em agosto, Sandro Farina Vieira, 44 anos, investiu cerca de R$ 4 mil para converter o automóvel C4 Picasso 2.0 da gasolina para o gás natural. Como trabalha de motorista para um aplicativo de transporte de passageiros, roda cerca de 10 mil quilômetros por mês em Florianópolis e abastece mensalmente de R$ 1,9 mil a R$ 2,1 mil. Com a economia de 50% em relação à gasolina que tem registrado, recuperou o investimento em apenas quatro meses.
– No meu carro eu tenho GNV porque primo pelo conforto. Ele é muito confortável e tem um consumo considerável. E em função da economia, optei pelo GNV. Estou muito satisfeito com meu consumo hoje – afirma Vieira.
Em dezembro, a Agência Reguladora de Serviços Públicos de Santa Catarina (Aresc) homologou uma resolução com novas tarifas de gás no Estado. A medida provocou a redução de 24,98% da tarifa, cobrada pela SCGás das bandeiras de postos, de R$ 1,21 para R$ 0,90 o metro cúbico do GNV.
O presidente da SCGás Cósme Polêse defende que, diferente da gasolina, que impactada diretamente pelo preço do barril de petróleo no mundo, e do álcool, dependente da safra de cana-de-açúcar, o gás tem maior estabilidade nos preços, embora também esteja atrelado ao preço do barril.
– O cenário que se apresenta no momento tende a melhorar. Não tenho dúvida de que este é um cenário otimista para quem quer fazer conversão. No desenho do médio prazo, esse preço deve se manter por um bom tempo – garante Polêse.
O sistema é recomendado principalmente para usuários que percorrem cerca de 1 mil quilômetros por mês, para recuperar o investimento em torno de um ano.
– Historicamente, o GNV sempre foi vantajoso e apresentou economia na casa de 45%, quando estava mais próximo do preço da gasolina. As oscilações de tarifas ocorrem uma vez ao ano. Dois anos atrás, por exemplo, aumentou 0,7% e, na verdade, deu R$ 0,02. Fica muito destoante quando se observa a variação do preço do GNV comparado à da gasolina – afirma o coordenador do Mercado Automotivo da SCGás, Ronaldo Macedo Lopes.
Santa Catarina é o terceiro maior mercado do GNV do Brasil em frota, em postos e em municípios atendidos, atrás somente de São Paulo e Rio de Janeiro. São cerca de 90 mil veículos licenciados no Estado nessa modalidade. Número ainda pequeno, menos de 2% de toda a frota.
O sobe e desce da gasolina nos últimos dois anos aumentou a procura nas convertedoras do Estado. Segundo Frederico Kellers Filho, proprietário da UseGás Auto Center, oficina de São José especializada na instalação dos kits GNV, desde outubro cresceu a procura pelo modelo:
– Ultimamente cresceu a procura do usuário particular. Hoje, esse perfil responde por grande parte do que atendemos aqui. Desde o ano passado, o mercado já tinha aquecido bastante.
O custo para instalação do kit parte de R$ 4 mil, dependendo do tipo de veículo ou da capacidade do cilindro. Uma pessoa que gaste R$ 1 mil por mês em gasolina pode ter uma economia de até R$ 600 com o novo modelo.
– Hoje o camarada que mora no Continente e vai para a Ilha todo dia e fica parado no trânsito tende a gastar muita gasolina. Não precisa rodar tanto para o GNV ter retorno – garante Kellers.
Para o atendente de oficina da Edgás Convertedora, de Blumenau, Luiz Alberto Lucas, o crescimento da procura tem sido intenso por particulares e empresas. A cidade conta com o maior número de veículos nesse sistema no Estado: são mais de 12 mil.
Um dos desafios para disseminar o uso do GNV em Santa Catarina é o número de postos que oferecem o serviço para abastecimento. Como o ramal central do gasoduto passa pelo litoral, é onde está concentrada a maior parte dos 132 estabelecimentos autorizados.
Uma resolução da Aresc do último dia 2 determina a criação de cronograma e projetos de expansão da rede pelo Estado. Quando não há rede física de gás natural, o sistema pode ser atendido por via terrestre, por meio de caminhões, com gás comprimido.
– Temos problemas no Oeste e no Meio-Oeste ainda porque o gasoduto está no litoral, precisamos interiorizar. Estamos trabalhando para fazer redes locais e levar o gás comprimido para atender essas regiões mais distantes da rede transportando com caminhões – explica Polêse.
A companhia está fazendo os estudos para lançar a primeira licitação. Sombrio, Garuva e Lages são cidades que já estão no projeto.
O C4 Picasso é o quinto automóvel em que Sandro Vieira instala o sistema. A primeira vez foi em 2002, quando ele ainda morava em Caxias do Sul (RS). Na época, o gás misturava-se com o oxigênio no filtro de ar. Com a tecnologia atual, de quinta geração, de injeção, tornou-se mais seguro.
– Com a tecnologia de hoje em dia, é mais fácil explodir um tanque de gasolina do que um cilindro de GNV. É claro que se for fazer uma conversão econômica, está correndo riscos. Uma vez que você sabe que vai economizar, em vez de instalar na primeira oficina, tem de fazer uma pesquisa – aconselha Vieira.
O coordenador de Mercado Automotivo da SCGás, Ronaldo Macedo Lopes orienta procurar apenas convertedoras que sejam homologadas pelo Inmetro. No Estado, são pelo menos 55 registradas no órgão de controle federal.
Fonte: Diário Catarinense